AMOTINADOS

23.12.22

Olhar

 

Deixe de lado o olhar absorto. Mire-me! Não apeteço ser santo, nem marinheiro sem porto. Serei desengano, desconforto. Lodo verdejando no pântano, garrafa flutuando no esgoto. Tempestade, raio, poesia, trovão, mar revolto. Do leite, o soro. Pentelho encravado, caroço, escroto. Serei incômodo, serei estorvo. (D.Álvares)


17.6.21

Satisfaction

Eu aspirava coloridas asas para voar por aí, pairar no céu, tocar as nuvens, sentir o vento, visitar cachoeiras, mares e matas. Deus me ofertou duas rodas e uma companhia suave. Aceitei. Enternecido, agradeci. Por ora me basta! (D.Álvares)

26.11.20

Musa

Ouça, abra os olhos e a blusa, seja da minha poesia a musa, não fuja, não se retraia. Deixe em meus poemas o aroma de fêmea, alecrim, gardênia, jasmim, alfazema e sálvia. E a minha poesia penetrará sua mente, corpo, acariciará os seus cabelos e seios, tomará do seu tinto, jorrará letras na cama e aquecerá com rimas e versos o seu lençol de cambraia. (D.Álvares)

9.4.20

Quando tudo isso passar


Minha amada, quando tudo isso passar a gente vai para a rua se abraçar, tomar umas geladas, saborear um mocotó, espetinhos, uma rabada. Quando tudo isso passar, a galera toda vai namorar, beijar na boca, se pegar nos bosques, becos, boates, nas praças. Quando tudo isso passar, o sol vai brilhar, o vento vai soprar, vai dar praia, vai sextar. Quando tudo isso passar, vou te levar pra sambar no Jajá, no Jorjão, muita cerva e aquela feijoada. Findi em Piri, Cidade de Goiás, Olhos D'água. Mas, por amizade, amor, respeito e afeição, #fique em casa enquanto tudo isso não passa.  (D.Álvares)

23.4.19

Fantasma de mim mesmo


Dor que tira a calma, embaraça a alma, desfaz a trama, restaura o trauma. Envenena a água, destrói a flora, aniquila a fauna e a ferida salga. Revigora a chaga, arrebenta a válvula, invade o quarto, a copa e a sala. A verdade clara, porrada na cara até que a máscara caia, a fidelidade traia e o ar se esvaia. É morte à bala, lança que empala e a ruína embala. O sol me flagra escalando a escada. Mulheres de saias, solos de guitarras e o murmúrio insidioso das vaias. Incas, Astecas e Maias. A noite chega com a velocidade de um impala, arrastando a cauda, exibindo as patas, encobrindo a praia, envolvendo montanhas, rios, florestas e matas. A alegria atirada à vala. A dispensa farta, no coração a falta. Desfaço as malas e a angústia no peito cala.