AMOTINADOS

31.3.10

Escuro

Pés descalços acariciam pedras, maçando o solo ancestral azul. Na mão esfumaçada, vela de beata triste. Na cabeça pecados, nostalgias, acordes de um antigo blues. (D.Álvares)




Tambores

Tambores, Aruanda flama no cheiro de mato, na fumaça virgem. Picumã na pedra, colméia de gente. Água varrendo areia. (D.Álvares)

Passado

Ninguém passa pelos trancos da vida impunemente. Tá passado quem diz que passa. (D.Álvares)

23.3.10

Rugas

São minhas estas rugas. Traços de nicotina, deflúvios vencidos. Marcas de noites, chuvas, ventos insones. Inestéticas cicatrizes de armistícios e guerras. Epidérmicos mapas de carinhos e eras. Solstício, equinócio, papiro. São minhas estas rugas. Vincos de pele e nervos, grutas cavadas pelas gruas do tempo. (D.Álvares)

22.3.10

Tribo de Jô

Somos de uma tribo gitana. Pacifistas, quiromantes, adivinhos e amas. Tendas brancas tecidas de sonhos, amores e manhas. Artistas mambembes, contadores de estórias, artesãs, fazedores de alegria, lendas, miçangas. Somos o que somos, nos palcos da vida cometemos comédias e dramas.  (D.Álvares)

20.3.10

Sobrevivendo

Para tia Fá
Reviraram o mundo, você caiu em nuvens. Apresentaram um lápis, você desenhou um céu. Eliminaram o fogo, você aguentou o frio. Se amássemos pouco, nada teria sentido. (D.Álvares)

12.3.10

Canto

Letras voam livres, sem as travas dos conceitos, indiferentes às patas dos governos, aos ditames acadêmicos, à Cia e ao Sendero. Letras sem rumos, sem tino, inebriadas de irrefreada autonomia. Consoantes e vogais, letras indisciplinadas experimentando piruetas, saltos mortais. E o escrivinhador, mudo de espanto, acuado em úmido canto. (D.Álvares)