Lentes

Você quer uma guerra? Ela está à frente das sardas de seu nariz empinado. A guerra reside contida em cada alma espremida no ônibus, no trem. Há guerra e fel na cara forrada de sol, tração humana da carroça de lixo. A guerra é isso, uma velha senhora emborcada, garimpando latas noturnas de playboys vadios. Suas lentes anseiam por guerra, o gosto de sal, o olor de merda, a arma letal. E não percebem: há guerra por detrás de sua janela, a alguns metros de sua sala de estar. (D. Álvares)